Fogo Amigo - Casa, Cordas e Alguns Geradores


Demorei mais de um mês para conseguir transpor aqui neste texto o que realmente sinto quando escuto o primeiro trabalho do Fogo Amigo.  É que esse álbum é imbuído de uma carga emocional tão densa que em determinados momentos me sinto como parte dos singles. Convenhamos que “Casa, Cordas e Alguns Geradores” possui, antes de tudo, um puta nome conceitual. Todas as linhas harmônicas, sintetizadores e ambiência foram elaborados na casa do próprio autor. Não obstante, se torna quase impossível descrever o tamanho da proporção desse álbum de forma superficial. “Casa, Cordas e Alguns Geradores” é a prova irredutível de que o que determina a beleza e o conteúdo de um trabalho é a capacidade do autor em reverberar suas emoções através das músicas que o compõem, e não a quantidade em demasia das mesmas presentes ali. Com apenas cinco canções, Daniel, autor da obra, consegue passar a quem o escuta tudo aquilo que permeava sua alma no momento de suas composições. Em minha opinião, todos os seus anseios, aflições, sonhos e paixões são transpostos aqui de forma humana e devastadora. O carro chefe do disco em questão chama-se “Plano de Fuga”. Em suma, nunca vi uma música instrumental tão confiante e sincera como esta.  A principal nuance desse trabalho é propiciar ao ouvinte lembranças de momentos vividos que se encaixam perfeitamente como o título e a melodia das canções. E o que acontece quando nenhuma dessas lembranças lhe vem à cabeça? Você cria! E é esse o efeito que  faz de “Casa, Cordas e Alguns Geradores” um álbum excepcional e inigualável em matéria de paixão e sinceridade.  Uma vez que assimilada sua essência, o ouvinte se torna capaz de teletransportar para situações que se encaixam perfeitamente com os singles. Prova disso é o que sinto ao escutar “Sonhando”; faixa três do disco. Contudo, como dito no começo desta resenha, se tornaria impossível explanar sobre esse álbum através de um texto simples e superficial como este. Porém, tudo que foi registrado aqui manifesta-se como primordial, uma vez que o disco em questão significa não só mais um trabalho independente realizado com maestria , mas também uma transposição sentimental tamanha que toca o âmago de quem lhe é apresentado e emociona quem compreende sua essência. 


Bon Iver - Bon Iver

Lembro como se fosse hoje, os meus amigos – grande parte deles – me recriminado solene e deliberadamente pela ausência desse disco no rancking dos 13 do ano passado: “Que isso, cara. Como você não inclui o do Bon Iver e tal...?” Passei uns quatro meses provando o gosto amargo de meu arrependimento até conseguir acordar novamente com inspiração pra escrever sobre algo. Eu tinha escutado esse disco inteiro na noite anterior até adormecer. E como dormi bem... Talvez esse disco seja pra se ouvir em paz, com calma e, talvez, tivesse mesmo que estar no rancking dos 13. Nada disso importa, afinal de contas, a essência, beleza e importância de uma obra não se dão pelo o que ela é, mas sim pelo que causa a quem atinge. O Disco do Bon Iver é desses, sabe? Intimista, lindo e instigante. Assim que comecei a escutá-lo de verdade, pude perceber o tamanho da proporção de sua obra. Sim, o álbum está parecido com os anteriores. Mas quem disse que amor repetido e em demasia faz mal a alguém? Sucinto, calmo, mas também desesperador em matéria de paixão, o homônimo do artista vem carregado de bons sentimentos e boas intenções. Recomendo muito escutarem a faixa três desse trabalho antes de escutarem o disco por completo. Ela funciona como um interlúdio às coisas belas que hão de vir no decorrer da audição. E sim, me arrependi tanto por não ter escrito sobre esse álbum anteriormente, como também por ter desprezado sua essência quando fui falar do que me fazia uma pessoa melhor enquanto amante e apreciador de coisas boas. Este é meu review; tardio e simplório, mas não menos sincero e cativante.


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13 Melhores de 2011

Dois mil e onze foi um ano meio que pra eu esquecer, me arrepender e aprender a não criar mais tantas expectativas com as coisas. As notícias boas foram tão poucas que consegui contá-las a dedo. Me deteriorei com amores impossíveis e não consegui fazer nem metade do que planejei. Conheci e reconheci o que me preenche de fato e me percebi o mesmo velho preocupado e ranzinza de sempre. Apesar de tudo continuo aqui, humano como em dois mil e dez. Pois então, vamos ao que interessa; aqui está a - contestável - lista dos treze discos que me fizeram suspirar profundamente no ano passado:



#13 - The Black Keys - El Camino (Nonesuch Records)

Quando joguei aqui no player não acreditei que se tratava da mesma banda do macho brigão “Attack and Release” de 2008. “El Camino” vem, mesmo, surpreendente, calmo e frouxo; mas não pior que os anteriores. A pegada fuckin power se converteu a um Stoner Rock com menos heroína, as guitarras diminuíram e, com elas, a sensação de aumento em 99% da taxa de testosterona no corpo. Aqui tudo soa simples. Sem a pungência e a agressividade dos vocais, antes presentes, também, em suas composições. Uma comparação aos discos anteriores se torna primordial para notar a diferença e a evolução do Black keys materializada e exposta no disco em questão. “El Camino” não empolga e não mobiliza euforicamente. Mas acalma, agrada e vicia quem gosta de imprevisibilidade.


#12 - Foster The People - Torches (Columbia Records)

Foster The People. Pelo nome eu já achava, antes mesmo de escutar, que se tratava de mais uma daquelas bandas indies clichês norte-americanas. Falhei miseravelmente supondo que suas composições, melodias e afins se encaixavam perfeitamente em um critério adotado pela maioria das bandas do mesmo movimento. O Foster The People que de Indie, Dubstep, ou seja lá o que for, não tem absolutamente nada vem com um dos trabalhos mais aguardados e bem aceitos de 2011. O diferencial do disco constitui-se em vocais que, em alguns momentos manifestam-se em corais e em outros de maneira singular. Outro ponto notável está nos teclados em demasia e no primeiro single, que, por sua vez, define providencialmente o que vem pela frente.



#11 - Marcelo Camelo - Toque Dela (Sony BMG Music Entertainment)

Vindo do Marcelo Camelo, um trabalho deve, por obrigação, ser, no mínimo, pretensioso demais. Assim que você escuta, aceita tal pretensão e qualifica como uma das coisas mais belas já elaboradas a nível nacional em matéria de composições. Foi assim com o antecessor “Sou” e com o presente “Toque Dela”. Sofisticado, elegante, calmo e sonolento. Descrição que faz jus ao talento nem um pouco surpreendente do Camelo. “Toque Dela” é pausadamente belo, categoricamente amoroso e substancialmente necessário para captar a essência de um compositor que escreve, canta e toca com a alma. E há quem diga que a unicidade do disco corrobora qualquer semelhança com o trabalho passado do compositor. Mas padroniza toda a obra do mesmo em excelência e exacerbação.

#10 - Cage The Elephant - Thank You Happy Birthday (EMI UK Records)

Um dos responsáveis pelo renascimento do Grunge (de Seattle ou não),"Thank You Happy Birthday" vem abstinente, efusivo e agonizante. As guitarras imundas que fazem jus à contundência presente em grande parte das composições do disco cai como uma luva no vocal nada sociável e tímido do Matt Shultz. A repercussão do último trabalho do grupo foi tamanha que lhes renderam um convite do pessoal da assessoria do Foo Fighters para uma turnê conjunta por países da Europa Ocidental. Cage The Elephant é categorizado por performances agoniantes, músicas legais e, principalmente, pelo retrocesso à vertente vigente na década de noventa que tratava o rock n' roll como um balaio sem tampa, ausente de qualquer sentido uma vez que se fizesse ausente de guitarras pesadas e diversão.



#09 - Criolo - Nó na Orelha (Selo Independente)

Grande Revelação do ano passado na cena nacional. Criolo; para os antigos, Criolo Doido, surpreende a crítica, desvia e encaixa Soul, Rap, Samba e, até, um pouquinho de Dubstep para os mais ousados (vide segunda faixa do disco) num dos discos que, de longe, impõe de vez a potencialização da miscigenação musical na indústria fonográfica brasileira. "Nó na Orelha" é multifacetado em seu conteúdo, mas singular e imutável em sua essência. As composições são dedicadas, quase que por completude, à cidade de São Paulo. Retrata um amor antigo às ruas de SP, que, por sua vez, funciona como, talvez, a principal inspiração do compositor. Vocais, hora falados, hora cantados, mas sempre baixos e sorrateiros dão prosseguimento às canções durante o desenrolar de todo o álbum. "Nó na Orelha" é revolucionário, revelador e consistente em demasia. Algo previsível, se tratando do talento de quem está por trás.



#08 - James Blake - James Blake (Universal Records)

O James Blake do dubstep britânico; arrebatador, tímido, minimalista e devastador traz batidas de triphop que lembram bastante os sons - quase - ambientes das bandas Burial, Boards of Canada e por aí vai. O álbum homônimo do artista - primeiro, singular e primordial - consolida, logo de cara, a carreira de um dos maiores talentos da música alternativa britânica. Com uma dinâmica marcada por pausas silenciosas, retomadas a todo o vapor e irremediáveis semelhanças com o "The Eraser", o primeiro disco do Blake faz inferência, principalmente, à suas influências e encara muito peixe grande lançado, também, em sua época. Um EP já foi lançado posteriormente com o mesmo brilho do primeiro álbum. Esperamos que venha mais James Blake lá pra o final desse ano e que seja, no mínimo, essencialmente semelhante ou melhor que o último disco.



#07 -Noel Gallagher - Noel Gallagher's High Flying Birds (Mercury Records)

E quem diria que a saída do Oasis faria um bem danado ao Noel Gallagher, em!? Ou talvez, o High Flying Birds seja apenas uma compilação de composições solitárias e sem espaço na dinâmica de sua ex banda. O fato é que o disco vem bem Manchester City (a cidade, não o time), mesmo. A Tipicidade do Noel é toda retratada aqui. Sem pudor, sem acanhamento. Apenas uma singela expressão emocional da sua alma. Algo que se feito em outra época ou com outros planos, não atingiria nem metade de sua proporção, afinal. Eu, particularmente, gostei bastante do primeiro disco dele. Soa sincero, puro e pessoal. Portador de um conteúdo monstruoso em suas composições. Bem bolado e exacerbadamente encaixado sem seu devido lugar. "Noel Gallagher's High Flying Birds" pode ainda ser categorizado como uma determinante responsável pela libertação de Noel Gallagher. Excelente recomeço.



#06 - St. Vincent - Strange Mercy (4AD Records)

Conheci sem saber essa cantora em uma apresentação do Sufjan Stevens. Ela tocava piano e cantava um pedacinho da linda "Jacksonville", do disco "Illinoise" já revisto aqui. Pouco tempo depois li algumas coisas da crítica à respeito de uma tal de St. Vincent; pseudônimo usado por Anie Erin Clark. Ouvi o disco e me apaixonei pelo jeito como ela canta. Uns dias depois caí para trás com a notícia que St. Vincent se tratava da mulher que tocava piano nos meus sonhos no vídeo da Jacksonville. "Strange Mercy" vem com um vocal distante, devagar e pausadamente por trás de efeitos que, por sua vez, fazem as coisas rápidas demais mas nunca afobadas e precoces. Motivos não faltam pra se apaixonar ao ouvir o álbum. São poucos os vocais femininos que me agradam e menores ainda os que me apaixonam. A Anie soube fazer isso como ninguém e, atualmente, em meu coração, só perde pra Adrey Tautou.



#05 - Radiohead - King of Limbs (Selo Independente)

O Disco de Thom e companhia que deveria mais levar o nome da faixa 05 "Lottus Flower" que "King Of Limbs", propriamente dito, tem opiniões a respeito bem, mas bem controversas. O problema é que o mundo quase caiu quando o Radiohead disse que ia lançar um disco novo. A expectativa foi tamanha que estavam até esperando uma coisa bem maior que o "Yellow Submarine", "Thriller" ou "Back to Black". Esqueceram que as coisas não funcionam bem assim. Não que o disco não agrade. Só não atende todas as astronômicas expectativas depositadas em seu lançamento. "King of Limbs" é consistente e carrega claramente diversos resquícios do último solo do Yorke. Contudo, as principais características do grupo continuam presentes veementemente aqui. Com o lançamento desse último disco que mais parece um EP, percebe-se indiscutivelmente que o Radiohead não tem mais como amadurecer. Incisivo, adulto e absoluto "King of Limbs" funciona tanto como um prelúdio do que há de vir pela frente quanto como um tapa na cara de quem espera sempre vinhos e flores de um romântico.



#04 - Beirut - The Rip Tide (Pompeii Records)

"The Rip Tide" fez-se presente na volta de Zach Condon de maneira tímida e sem muito abalo. Soando mais com uma homenagem à sua cidade natal e amores antigos, o Beirut renasce mais como um reconhecimento de sua essência e origem, do que como algo intencional, previsível ou comercial. Sucessor dos irmãos nada semelhantes "The March of Zapotec" e "Real People Rolland", "The Rip Tide" vem para apagar o infeliz período experimental pelo qual Zach passou e reinstaurar os tempos de brilhantina de "The Flying Club Cup" e cia.





#03 - Destroyer - Kaputt (Merge Records)

O terceiro no top três da lista manifesta nostalgia com um regresso ao estilo oitentista predominante, principalmente, na America do Norte e Europa. Tenho uns discos bem antigos do Destroyer aqui em casa e a sensação que tenho é que o Dan Bejar; linha de frente do grupo, realiza um trabalho de trás pra frente. Acontece que os discos que precederam "Kaputt" são bem mais novos em questão de estilos e influências. E, talvez a graça de tudo esteja, justamente, em relembrar coisas antigas e renascer o que de bom foi vivido. A sensação que tenho ao escutar esse álbum é inteiramente nostálgica. A ideia é tão forte que, até os clipes dos singles desse trabalho possuem um caráter meio década de oitenta. Sincero, doce e calmo, "Kaputt" vem pra reviver o que foi perdido e contrapor o pós-modernismo musical que tanto estraga o resto que temos de original por aí.



#02 - Foo Fighters - Wasting Light (RCA Records Label)

Essa é, de longe, minha banda preferida, mas que perdeu o primeiro lugar pra outra digníssima e, já, já explico porquê. Bom, 2011, definitivamente, foi o ano do Foo Fighters. "Wasting Light" foi o disco mais aguardado por mim em toda a vida. Atendeu as expectativas com sua força, violência e rapidez. Alguns disseram que o disco acaba rápido demais. Acaba rápido demais justamente por ser composto com rapidez e freneticidade. Confeccionado na garagem de Dave Grohl por um tal de Butch Vig e repatriador oficial de Patt Smear, "Wasting Light" trás de volta o velho Foo Fighters perdido no "One By One" em diante e, de quebra, conta com participações ilustres como a do ex nirvana Novoselic e Bob Mould; vocalista e guitarrista da banda Husker Du; uma das influências musicais de Dave. O disco vem para reviver de vez o Grunge de Seattle além de replantar a essência da banda.



#01 - TV on The Radio - Nine Types of Light (DGC/Interscope Records)

O grande vencedor. Grande romântico, sentimental e doce "Nine Types of Light". Disparado o disco mais lindo que já escutei na vida. Portador de uma tristeza incomum na carreira da banda. Magnífico e desesperadamente aclamante em matéria de coração. Humano, acima de tudo e, demasiadamente humano, à cima de tudo. "Nine Types of Light" vem maduro, triste e calejado. O disco não resume bem a carreira do TV on The Radio, mas abre novos horizontes para composições mais íntimas e sensíveis, talvez. A sensibilidade se faz presente aqui e perpassa tudo e qualquer coisa referente ao modo como as canções foram elaboradas e, muito bem elaboradas, diga-se de passagem. "Nine Types of Light" foi, pra mim, o melhor disco de 2011 e o melhor disco da carreira da banda. Provavelmente insuperável no que diz respeito à coisas ditas pelo coração.


Marcelo Jeneci - Feito Pra Acabar

Marcelo Jeneci. Saudoso Marcelo Jeneci. Quase um Camelo (Marcelo). Por hora, um rapaz boa praça com um disco solo bem promissor. De vez em quando um músico “feito pra acabar”. De hora em vez, eterno com aqueles assobios. Cria de Arnaldo Antunes, Chico César e Zé Miguel, Marcelo Jeneci vem com toda uma bagagem que é irremediavelmente transposta em seu primeiro trabalho; o hipônimo “Feito Pra Acabar”. Marcelo Jeneci; um compositor a serviço do regresso à beleza e leveza da Música Popular Brasileira. Quiçá um dos últimos fios de esperança. Seu disco “Feito Pra Acabar”, tratado como um dos principais elos entre a jovem e velha guarda da MPB detém uma multiplicidade tamanha que, às vezes, nos trás o estarrecedor, precoce e velho Little Joy de Amarante, Moretti e Cia subordinado a influência da música nordestina presente nos acordes de sanfonas e no tímido uso do triângulo. Tudo isso sem perder a leveza, simplicidade e identidade de suas composições. Acompanhado, ainda, da linda, doce, gostosa e idealizada Laura Lavieri; fantástica cantora/compositora que acompanha Jenéça (para os íntimos) em seu trabalho. “Feito Pra Acabar” reverbera flores, ares felizes, inspirações, amores... transparece bem querer, evoca carinho e apreço. Causa uma sensação impar, intencional, carregada de mimos. O Jeneci tá de parabéns e muito merecidamente. Digníssimo. Maravilhoso “Feito Pra Acabar”.

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TV on The Radio - Nine Types of Light


Me apaixonei depois de escutar a “Crying” que nem dá tanta vontade de chorar assim e me obcequei pra valer, mesmo, depois do “Dear Sciense”; melhor disco do Lo-Fi que já escutei na vida! Aí vieram as semelhanças perturbadoras assim que conheci os amigos do The National. Até achava que o Matt Berninger fazia umas participações especiais escondidas e tal. Desencanei quando vi o primeiro vídeo deles ao vivo. Pois então, eu quis revisar esse disco, o último que saiu, porque nunca testemunhei uma transposição sentimental tão estrondosa, visceral, estraçalhadora e prodigiosamente descomunal em matéria de coração. O motivo: a morte do baixista da banda Gerard Smith, nas gravações do disco em questão. Diagnosticado com um câncer em fase terminal no pulmão, o último pedido de Smith foi que seus amigos terminassem as gravações e o deixassem ouvir antes de sua morte. O sofrimento de todos que participavam da rotina da banda em estúdio foi determinantemente reverberada em “Nine Types of Light”, um dos discos mais carregados que já escutei. O ápice se encontra entre as faixas “Will Do” e “Killer Crane”, principalmente em “Killer Crane”. Que música sensacional, que feeling. Contudo, a diferença de humor desse álbum só se torna notória se escutarmos os anteriores e entendermos a dedicatória à Gerard Smith presente aqui, mesmo que intimamente. A grande atipicidade, aqui, é encontrar um TV on The Radio melancólico, quase inércio e inferente à mensagens de amor e esperança em suas composições. Em contraposição à essas diferenças; um álbum expressivo, intimista, deliberadamente humano e sensível, como de costume.

Beirut - The Rip Tide

Depois do excelente “The March of Zapotec” e do patinho feio “Realpeople – Holand”, Zach Condon extrapola, de novo em “The Rip Tide”; novo compacto do folker boa praça e cérebro do Beirut. A genuinidade do “The Flying Club Cup” que havia se perdido desde o “Gulag Orkestar”; melhor disco deles, em minha singela opinião, finalmente retorna num disco que homenageia, até sua cidade natal em “Santa Fe” - título do single e homônimo de sua cidade. Pois é, o Beirut voltou. E voltou com as mesmas cornetinhas determinantes e essenciais em toda a obra, com as sanfonas em demasia e com o vocal ora cabalístico, ora tímido, mas sempre intimista e conciso no que diz respeito à importância trivial de toda a estrutura do grupo. Houveram muitas críticas em relação à ordem das músicas e ao tempo de duração da audição do disco. Quanto à ordem das musicas no disco, nem me atrevo a opinar. Porém, quanto ao tempo de duração do compacto é necessário entendermos que, tudo que é bom, dura pouco. O ditado é clichê e bem pobre, mesmo. Mas clarifica toda a indagação quanto à rapidez com que passa o “The Rip Tide”. Acontece que o compacto em questão é tão belo e sereno que escutamos sem preocupação alguma e, quando nos damos por nós, o disco já acabou. O belo está no simples, afinal. Em contra posição às mesmas críticas anotadas ao “The Rip Tide”, podemos citar o extenso “Illinois” de 22 faixas do Sufjan Steves; outro compositor norte-americano da mesma patota de Zach. Discos mais demorados que esse só mesmo os do Rogers Waters e cia. É que, não obstante à tudo o que se ponderou aqui, há discos de excelência indiscutível por aí, só que tão extensos que se tornam enfadonhos. Contudo, as nove faixas de “The Rip Tide” externa pela milésima vez a essência do Beirut e acaba com a angustia de um hiato necessário para que Zach jogasse fora de vez as pick-ups do último EP e voltasse a fazer folk music de verdade. Excelente “The Rip Tide”, excelente por regra, se tratando de Beirut e previsivelmente excelente se tratando de Zach Condon.

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Kvelertak - Kvelertak

A única coisa que sei sobre esses caras é que são alcoolatras, noruegueses e que o baterista; que, toca pra burro, é fã de Motorhead. Então, eu achei esse compacto meio que na cagada, aqui. Peguei um monte de discos com um amigo meu há um tempo atrás. No começo do ano passado... Quando olhei, de primeira eu achei a capa bem legal, daí pensei que era um folkzinho clichê desses que escuto aqui e tal. Quando pus pra ouvir, logo de cara, já escutei um grito furioso do pessoal, parecendo ecoar o nome da banda: Kvelertak! Coisa de adolescente, mesmo. Mas que disco legal de escutar, Deus me livre. As guitarras são tão consistentes que ofuscam quase que por completo os guturais furiosos do vocalista; um barrigudo meio de mal com a vida. O auge do disco chama-se “Blodtorst” e “Offernatt”, ambas bem no meio, mesmo. Com solos abusivos e as guitarras mais pesadas que eu já vi na face da terra. O álbum todo, a todo o momento, instiga você a xingar enquanto escuta. Mas se bem que, os sons da Noruega e da Alemanha costumam ter a fama de serem bem headbangers, afinal. Eles abusam da melodia e o acréscimo de tudo enquanto parece não ter fim. Parece até que as músicas são infinitas e que a todo final de um refrão vem sempre algo maior pra continuar a sequência. Eu e metade da Europa ocidental não conseguimos rotular o que possa ser o som desses caras. Mas o choque e a queda pra trás ao escutá-lo é dada como certa à quase todo mundo que goste de Metal Hardcore. O que eu achei mais legal é que não nota-se pedal duplo por parte da bateria, além do mais, as passadas são rápidas, mas não breves; se estendem até o final do riff, causando assim uma enorme impressão de continuidade e empolgando ainda mais quem escuta. O primogênito da banda já vem com status de 3º ou 4º disco por sua consistência e elaboração. É digno esperar o segundo com, no mínimo, expectativa e ansiedade.